DESPERDÍCIO BRASIL
Sempre que se reúnem para lamuriar, os empresários falam no Custo Brasil, no preço que pagam para fazer negócios num país com regras obsoletas e vícios incrustados. O atraso brasileiro é quase sempre atribuído a alguma forma de corporativismo anacrônico ou privilégio renitente que quase sempre têm a ver com o trabalho superprotegido, com leis sociais ultrapassadas e com outras bondades inócuas, coisas do populismo irresponsável, que nos impedem de ser modernos e competitivos.
Raramente falam no que o capitalismo subsidiado custa ao Brasil.
O escândalo causado pela revelação do que os grandes bancos deixam de pagar em impostos não devia ser tão grande, é só uma amostra da subtributação, pela fraude ou pelo favor, que há anos sustenta o nosso empresariado chorão, e não apenas na área financeira. A construção simultânea da oitava economia e de uma das sociedades mais miseráveis do mundo foi feita assim, não apenas pela sonegação privada e a exploração de brechas técnicas no sistema tributário - que, afinal, é lamentável, mas mostra engenhosidade e iniciativa empresarial – mas pelo favor público, pela auto-sonegação patrocinada por um Estado vassalo do dinheiro, cúmplice histórico da pilhagem do Brasil pela sua própria elite.
O Custo Brasil dos lamentos empresariais existe, como existem empresários responsáveis que pelo menos reconhecem a pilhagem, mas muito mais lamentável e atrasado é o Desperdício Brasil, o progresso e o produto de uma minoria que nunca são distribuídos, que não chegam à maioria de forma alguma, que não afetam a miséria à sua volta por nenhum canal, muito menos pela via óbvia da tributação. Dizem que com o que não é pago de imposto justo no Brasil daria para construir outro Brasil. Não é verdade. Daria para construir dois outros Brasis. E ainda sobrava um pouco para ajudar a Argentina, coitada.
(Luís Fernando Veríssimo)
1) Para entender bem um texto, é indispensável que compreendamos perfeitamente as palavras que nele constam. O item em que o vocábulo destacado apresenta um sinônimo imperfeito é:
a) “Sempre que se reúnem para LAMURIAR,...” - lamentar-se
b) “...um país com regras OBSOLETAS...” - antiquadas
c) “...e vícios INCRUSTADOS.” - arraigados
d) “...alguma forma de corporativismo ANACRÔNICO...” - doentio
e) “...ou privilégio RENITENTE...” – persistente
2) “Sempre que se reúnem para lamuriar, os empresários falam no Custo Brasil, no preço que pagam para fazer negócios num país com regras obsoletas e vícios incrustados.”; o comentário INCORRETO feito sobre os conectores desse segmento do texto é:
a) A expressão sempre que tem valor de tempo.
b) O conectivo para tem idéia de finalidade.
c) A preposição em no termo no Custo Brasil tem valor de assunto.
d) A preposição em no termo num país tem valor de lugar.
e) A preposição com tem valor de companhia.
3) O segmento do texto que NÃO apresenta uma crítica explícita ou implícita às elites dominantes brasileiras é:
a) “Sempre que se reúnem para lamuriar, os empresários falam no Custo Brasil...”
b) “Raramente (os empresários) falam no que o capitalismo subsidiado custa ao Brasil.”
c) “O escândalo causado pela revelação do que os grandes bancos deixam de pagar em impostos não devia ser tão grande,...”
d) “...pela fraude ou pelo favor, que há anos sustenta o nosso empresariado chorão,...”
e) “O Custo Brasil dos lamentos empresariais existe,...”
4) “...no preço que pagam para fazer negócios num país com regras obsoletas e vícios incrustados.”; na situação textual em que está, o segmento país com regras obsoletas e vícios incrustados representa:
a) uma opinião do empresariado
b) o ponto de vista do autor do texto
c) uma consideração geral que se tem sobre o país
d) o parecer do capitalismo internacional
e) a visão dos leitores sobre o país em que vivem
5) O principal prejuízo trazido pelo Custo Brasil, segundo o primeiro parágrafo do texto, que retrata a opinião do empresariado, é:
a) o corporativismo anacrônico
b) o privilégio renitente
c) trabalho superprotegido
d) populismo irresponsável
e) falta de modernidade e competitividade
6) O corporativismo anacrônico, o privilégio renitente, o trabalho superprotegido e outros elementos citados no primeiro parágrafo do texto indicam, em sua totalidade:
a) deficiências em nosso sistema socioeconômico
b) a consciência dos reais problemas do país por parte dos empresários
c) o atraso mental dos políticos nacionais
d) a carência de líderes políticos modernos e atuantes
e) a posição ultrapassada do governo
7) “Raramente falam no que o capitalismo subsidiado custa ao Brasil.”; os empresários brasileiros raramente falam neste tema porque:
a) são mal preparados e desconhecem o assunto.
b) se trata de um assunto que não lhes diz respeito.
c) se refere a algo com que lucram.
d) não querem interferir com problemas políticos.
e) não possuem qualquer consciência social.
8) “...coisas do populismo irresponsável,...” corresponde a:
a) uma retificação do que antes vem expresso
b) uma ironia sobre o que é dito anteriormente
c) uma explicação dos termos anteriores
d) mais um elemento negativo do país
e) uma crítica sobre a política do país
9) O fato de os bancos deixarem de pagar impostos;
a) faz com que o Brasil se torne a oitava economia do mundo.
b) é prova de nossa modernidade.
c) é comprovação de que estamos seguindo os moldes econômicos internacionais.
d) é mais uma prova de injustiça social.
e) garante investimentos em áreas mais carentes.
10)Subtributação só pode significar:
a) sonegação de impostos
b) ausência de fiscalização no pagamento dos impostos
c) taxação injusta, por exagerada
d) impostos reduzidos
e) dispensa de pagamento de impostos
11) “...pela fraude ou pelo favor...”; os responsáveis, respectivamente, pela fraude e pelo favor são:
a) o empresariado e o poder político
b) o Congresso e o Governo
c) os sonegadores e o empresariado
d) os banqueiros e o Congresso
e) as leis e o capitalismo internacional.
12) Ao dizer que nosso empresariado é chorão, o autor repete uma idéia já expressa anteriormente era:
a) bondades inócuas
b) lamuriar
c) populismo irresponsável
d) atraso
e) trabalho superprotegido
13) Segundo o texto, o Governo brasileiro:
a) prejudica o desenvolvimento da economia.
b) colabora com a elite no roubo do país.
c) não tem consciência dos males que produz.
d) explora as brechas técnicas do sistema tributário.
e) demonstra engenhosidade e iniciativa empresarial.
14) As “brechas técnicas do sistema tributário” permitem:
a) pagamento de menos impostos
b) sonegação fiscal
c) fraude e favor
d) maior justiça social
e) o aparecimento de queixas do empresariado
15) O “Desperdício Brasil” se refere à:
a) ausência de distribuição social das riquezas
b) subtributação patrocinada pelo Estado
c) perda de dinheiro pela diminuição da produção
d) queda de arrecadação por causa do Custo Brasil
e) redução do desenvolvimento na área financeira
16)”...o progresso e o produto de uma minoria que nunca são distribuídos, que não chegam à maioria de forma alguma,...”; representam, respectivamente, a minoria e a maioria:
a) banqueiros / empresariado
b) elite econômica / trabalhadores em geral
c) economistas / povo
d) classes populares / classes abastadas
e) desempregados / industriais
17) “...que não afetam a miséria à sua volta por nenhum canal, muito menos pela via óbvia da tributação”; nesse segmento, o autor do texto diz que os impostos:
a) deveriam ser cobrados de forma mais eficiente.
b) impõem a miséria a todas as classes.
c) causam pobreza nas elites e nas classes populares.
d) não retornam à população de forma socialmente justa.
e) são o caminho mais rápido para o progresso.
Gabarito dos exercícios de interpretação de textos
1) Letra d
Questão de sinonímia. Anacrônico quer dizer fora da moda, fora do uso corrente.
2) Letra e
A preposição com possui inúmeros valores semânticos. Tem valor de companhia em frases do tipo: ele saiu com o irmão. No texto, não é nítida a relação, mas diríamos que seu valor nocional é de posse (país que tem regras obsoletas e vícios incrustados). O que não se pode aceitar é a idéia de companhia, que não existe no trecho em destaque.
3) Letra e
Na letra a, os empresários são criticados porque sempre lamuriam nas reuniões. Na b, o autor critica os empresários por quase não falarem no custo do capitalismo subsidiado. Na c, a crítica é aos grandes bancos por deixarem de pagar impostos. Na d, os empresários são criticados por causa da fraude ou do favor que os beneficiam. Não se depreende qualquer tipo de crítica na opção e.
4) Letra a
É necessário voltar ao texto, mesmo que a questão esteja calcada em um trecho. Este, por si só, não dá elementos para que se responda. É preciso saber quem paga. O texto diz, logo em seu primeiro parágrafo: “Sempre que se reúnem para lamuriar, os empresários falam no Custo Brasil, no preço que pagam para fazer negócios...”. O sujeito de pagam é eles, ou seja, os empresários. Assim o trecho destacado nesta questão representa a opinião do empresariado.
5) Letra e
A resposta aparece nítida no trecho “...que nos impedem de ser modernos e competitivos”. Só por curiosidade: o enunciado, por descuido, dá a resposta da questão anterior, quando diz “...que retrata a opinião do empresariado...”.
6) Letra a
A resposta só pode ser a letra a porque todos os termos apresentados são colocados pelo empresariado como obstáculos aos seus negócios. Assim, deduz-se que se trata de deficiências que atingem a situação socioeconômica dos empresários, daí seus lamentos expostos em todo o primeiro parágrafo. As opções c, d e e são facilmente descartadas, porém a opção b poderia trazer alguma confusão. Ela não serve como resposta pois fala dos problemas do país, em geral, enquanto na realidade os empresários se lamentam pelos problemas que os atingem, não demonstrando preocupação com todos os tipos de problemas nacionais.
7) Letra c
O empresariado é, evidentemente, capitalista. Assim, lucrando com algo que traz prejuízos ao país (segundo o autor do texto), eles quase não falam a respeito, porque seriam naturalmente questionados.
8) Letra b
É necessário ler com muita atenção o trecho. “Coisas do populismo irresponsável” refere-se a três termos citados anteriormente: “trabalho superprotegido”, “leis sociais ultrapassadas” e “outras bondades inócuas”. Isso lembra (e aí temos a necessidade de conhecimento extratexto) o famoso populismo, tão citado em relação a determinados governos. A palavra populismo está usada ironicamente, pois as três coisas deram errado, tanto é que há o reforço da palavra irresponsável.
9) Letra d
A injustiça social ocorre porque, se alguns pagam, todos teriam de pagar impostos. Claro que para isso eu não preciso recorrer ao texto. Mas é perigoso raciocinar assim, pois o autor poderia estar contrariando, por qualquer motivo, esse axioma. Tente sempre localizar no texto. À vezes uma simples palavra ou expressão responde ao que se quer. Por exemplo, a palavra escândalo, no início do segundo parágrafo. Também nos dá essa idéia a expressão pela fraude ou pelo favor, algumas linhas adiante (há alguns favorecidos, outros não, eis a injustiça social).
10) Letra d
Subtributação pode ser entendida como o ato de tributar por baixo, de maneira reduzida. Por isso a resposta é a letra d, que fala de impostos reduzidos. A palavra não se refere ao não-pagamento de impostos, o que elimina as alternativas a e e.
11) Letra a
O texto diz, no segundo parágrafo, que a subtributação sustenta o empresariado e ocorre por fraude ou favor. Ora, a fraude é cometida pelo interessado, que no caso é o empresariado. E quem dá favores que levem a uma subtributação só pode ser o governo, pois só ele tem esse poder.
12) Letra b
Lamuriar é chorar. No primeiro período do texto, a ação de lamuriar ou chorar é atribuída aos empresários.
13) Letra b
Ao favorecer o empresariado com a subtributação, o governo está colaborando com o roubo da elite, pois o dinheiro deixa de ser recolhido pelos cofres públicos, de onde sairia para bancar projetos sociais. Dessa forma, a população está sendo roubada.
14) Letra a
A subtributação, que é o pagamento de menos impostos, só existe porque há brechas no sistema tributário, devidamente exploradas para benefício do empresariado. Se não houvesse tais brechas, os empresários pagariam os impostos devidos.
15) Letra a
A resposta se encontra no trecho: “...mais lamentável e atrasado é o Desperdício Brasil, o progresso e o produto de uma minoria que nunca são distribuídos, que não chegam à maioria de forma alguma...” (3º parágrafo).
16) Letra b
A maioria, no texto, são os menos favorecidos; a minoria, aquela classe que possui em excesso. Com isso, a letra a é descartada, pois coloca dois grupos favorecidos. Na letra c, a palavra economistas destoa do que se imagina sobre uma classe poderosa, rica; economista é também trabalhador, pode ser rico ou pobre. Nas opções d e e houve inversão: primeiro os menos favorecidos, depois os privilegiados. Assim, a resposta só pode ser a letra b.
17) Letra d
Afetar a miséria à sua volta seria fazer algo para acabar com ela ou, pelo menos, diminuí-la, sendo que o caminho lógico para isso é o da utilização dos impostos, a tributação. Como eles não retornam devidamente à população, como diz a letra d, que é o gabarito, a miséria continua a mesma.
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