sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Exercícios resolvidos do ITA

 Hoje, veremos questões sobre linguagem.

As questões abaixo referem-se aos seguintes textos:

TEXTO 1

Valorizar o professor do ciclo básico
Como não sou perito em futurologia, devo limitar-me a fazer um exercício de observação. Presto atenção ao que se passa na escola hoje e suponho que, daqui a 25 anos, as tendências atuais persistirão com maior ou menor intensidade.
Provavelmente, o analfabetismo dos adultos terá sido erradicado e o acesso à instrução primária terá sido generalizado.
Tildo indica que a demanda continuará a crescer em relação ao ensino secundário e superior. Se os poderes públicos não investirem sistematicamente na expansão desses dois níveis, a escola média e a universidade serão em grande parte, privatizadas.
A educação a distância será promovida tanto pelo Estado como pelas instituições particulares. Essa alteração no uso de espaços escolares tradicionais levará a resultados contraditórios. De um lado, aumentará o número de informações e instrumentos didáticos de alta precisão. De outro lado, a elaboração pessoal dos dados e a sua crítica poderão sofrer com a falta de um diálogo sustentado face a face entre o professor e o aluno.
É preciso pensar, desde já, nesse desafio que significa aliar eficiência técnica e profundidade ou densidade cultural.
O risco das avaliações sumárias, por meio de testes, crescerá, pois os processos informáticos visam a poupar tempo e reduzir os campos de ambiguidade e incerteza. Com isso, ficaria ainda mais raro o saber que duvida e interroga, esperando com paciência, até vislumbrar uma razão que não se esgote no simplismo do certo versus errado. Poderemos ter especialistas cada vez mais peritos nas suas áreas e massas cada vez mais incapazes de entender o mundo que as rodeia. De todo modo, o futuro depende, em larga escala, do que pensamos e fazemos no presente.
Uma coisa me parece certa: o professor do ciclo básico deve ser valorizado em termos de preparação e salário, caso contrário, os mais belos planos ruirão como castelos de cartas, (BOSI, Alfredo. Caderno Sinapse. Folha de S. Paulo, 29/07/2003.)

TEXTO 2

Diretrizes de salvação para a Universidade Pública
"... poder-se-ia alegar que não é muito bom o ensino das matérias que se costuma lecionar nas universidades. Todavia, não fossem essas instituições, tais matérias geralmente não teriam sido sequer ensinadas, e tanto o indivíduo como a sociedade sofreriam muito com a falta delas..." - Adam Smith

(...) A grande característica distintiva de uma Universidade pública reside na sua qualidade geradora de bens públicos. Estes, por definição, são bens cujo usufruto é necessariamente coletivo e não podem ser apropriados exclusivamente por ninguém em particular.
Quanto ao grau de abrangência, os bens públicos podem ser classificados em locais, nacionais ou universais. O corpo de bombeiros de uma cidade, por exemplo, é um bem público local, o serviço da guarda costeira de um país é um bem público nacional, ao passo que a proteção de áreas ambientais importantes do planeta, como a Amazônia, deve ser vista como bem público universal, assim como qualquer outra atividade protetora de patrimónios da humanidade ou de segurança global, como é o caso da proteção contra vírus de computador, para citar um exemplo mais atual, embora ainda não plenamente reconhecido.
Incluem-se no elenco dos bens públicos as atividades relacionadas à produção e transmissão da cultura, ao
pensamento filosófico e às investigações científicas não alinhadas com qualquer interesse económico mais imediato.
A Universidade surgiu na civilização porque havia uma necessidade latente desses bens e legitimou-se pelo reconhecimento de sua importância para a humanidade.
Portanto, ela nasceu e legitimou-se como instituição social pública e não como negócio privado, como muitos agora a querem transformar, inclusive a OMQ contradizendo o próprio Adam Smith, o patriarca da economia de mercado, como bem o indica a passagem acima epigrafada, retirada de "A Riqueza das Nações".
As tecnologias podem ser "engenheiradas", transformando-se em produtos de mercado, mas o conhecimento que as originou é uma conquista da humanidade e, portanto, um bem público universal, como é o caso, por exemplo, das atividades do Instituto Politécnico de Zurique, de onde saiu Albert Einstein, e do laboratório Cavendish da Universidade de Cambridge, onde se realizam os experimentos que levaram a descobertas fundamentais da física, sem as quais não teriam sido possíveis as maravilhas tecnológicas do mundo moderno, da lâmpada elétrica à internet. (...)
(SILVA, José M. A. Jornal da Ciência, 22/07/2003. Extraído de: http://www.jornaldaciencia.org.hr, 15/07/2003.)

Exercícios resolvidos do ITA
1. Em relação ao Texto 1, assinale a opção que contém a ideia que NÃO pode ser pressuposta.
A) Hoje, no Brasil, existem analfabetos.
B) Nem todos os brasileiros têm instrução primária.
C) Existe uma procura crescente pelo ensaio secundário.
D) O poder público não investe no ensaio médio e superior.
E) Atualmente, o saber questionador é incomum nos espaços escolares.

Resolução: No início do texto, o enunciador afirma: "Se os poderes públicos não investirem sistematicamente na expansão desses dois níveis, a escola média e a universidade serão, em grande parte, privatizadas". O pressuposto dessa passagem não é o de que o poder público não investe no ensino médio e superior (como aparece na alternativa D), e sim o de que os investimentos, embora possam ser existentes, não são sistemáticos.

Resposta: D

2. Em relação ao Texto 1, é possível inferir que
A) não causará prejuízo para o ensino a eliminação da interação face a face envolvendo professor e aluno.
B) o aumento do número de informação é diretamente proporcional ao crescimento dos instrumentos didáticos de alta precisão.
C) o saber questionador exige tempo, condição incompatível com os objetivos dos processos informáticos.
D) a incapacidade de entender o mundo decorrerá da completa ausência, no futuro, de um saber questionador.
E) o sucesso da educação, no futuro, depende necessariamente da eliminação dos processos informáticos.

Resolução: No texto, o enunciador defende que "O risco das avaliações sumárias, por meio de testes, crescerá, pois os processos informáticos visam a poupar tempo e reduzir os campos de ambiguidade e incerteza. Com isso, ficaria ainda mais raro o saber que duvida e interroga, esperando com paciência, até vislumbrar uma razão (...)". Dessa passagem infere-se que o saber questionador, que exige "paciência", é incompatível com os "processos informáticos", cujo principal objetivo é o de "poupar tempo".

Resposta: C

3. Aponte o enunciado em que o verbo poder não indica possibilidade.
A) De outro lado, a elaboração pessoal dos dados e a sua crítica poderão sofrer com a falta de um diálogo sustentado (..J (Texto 1)
B) Poderemos ter especialistas cada vez mais peritos (...) (Texto 1).
C) Estes, por definição, são bens cujos usufruto é necessariamente coletivo e não podem ser apropriados exclusivamente por ninguém em particular. (Texto 2).
D) Quanto ao grau de abrangência, os bens públicos podem ser classificados em locais, nacionais ou universais. (Texto 2).
E) As tecnologias podem ser "engenheiradas", transformando-se em produtos de mercado, (.. .) (Texto 2).

Resolução: Quando se fala de "... bens cujo usufruto é necessariamente coletivo e não podem ser apropriados exclusivamente por ninguém em particular", não se está negando a possibilidade real dessa apropriação, mas se está afirmando algo de natureza deontológica, ou seja, que do ponto de vista ético isso não deve ser permitido. Em outras palavras, o verbo poder não está indicando possibilidade, mas proibição.

Resposta: C

4. A única opção em que o advérbio em negrito indica o ponto de vista do autor ê
A) Provavelmente, o analfabetismo dos adultos terá sido erradicado (...) (Texto 1).
B) Se os poderes públicos não investirem sistematicamente na expansão desses dois níveis, (...) (Texto 1)
C) Estes, por definição, são bens cujo usufruto é necessariamente coletivo (.. .) (Texto 2).
D) (...) e não podem ser apropriados exclusivamente por ninguém (.. .) (Texto 2).
E) (...) como é o caso da proteção contra vírus de computador, para citar um exemplo atual, embora ainda não plenamente reconhecido. (Texto 2).

Resolução: O advérbio "provavelmente" (Texto 1) sugere que o enunciador está apenas levantando a hipótese de que "o analfabetismo dos adultos terá sido erradicado". Por isso, o advérbio indica um ponto de vista do enunciador sobre o que está sendo relatado.

Resposta: A

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