sexta-feira, 12 de outubro de 2012

[gerundismo] Tudo sobre gerundismo


Lia recentemente que em fevereiro de 2001, o publicitário Ricardo Freire deu início a uma curiosa campanha no Jornal da Tarde, onde publicava a coluna Xongas. O texto abaixo, que logo chegou à internet e passou a ser divulgado por aquelas deliciosas correntes que expõe o nosso e-mail para todos os fraudadores e “enviadores de spam”, foi o ponto de partida dessa campanha. Deem uma olhada no texto:

Para você estar passando adiante

Este artigo foi feito especialmente para que você possa estar recortando e possa estar deixando discretamente sobre a mesa de alguém que não consiga estar falando sem estar espalhando essa praga terrível da comunicação moderna, o gerundismo.

Você pode também estar passando por fax, estar mandando pelo correio ou estar enviando pela internet. O importante é estar garantindo que a pessoa em questão vá estar recebendo esta mensagem, de modo que ela possa estar lendo e, quem sabe, consiga até mesmo estar se dando conta da maneira como tudo que ela costuma estar falando deve estar soando nos ouvidos de quem precisa estar escutando.

Sinta-se livre para estar fazendo tantas cópias quantas você vá estar achando necessárias, de modo a estar atingindo o maior número de pessoas infectadas por esta epidemia de transmissão oral.

Mais do que estar repreendendo ou estar caçoando, o objetivo desse movimento é estar fazendo com que esteja caindo a ficha nas pessoas que costumam estar falando desse jeito sem estar percebendo.

Nós temos que estar mostrando a nossos interlocutores que, sim!, pode estar existindo uma maneira de estar aprendendo a estar parando de estar falando desse jeito.

O texto de Ricardo Freire tematiza, de maneira bem-humorada, a "febre" do gerundismo que tomou conta dos brasileiros há alguns anos. Afinal, o que é o gerundismo e por que ele deveria ser combatido? Em termos estruturais o que se tem é uma locução verbal construída a partir do uso de dois verbos auxiliares (geralmente, ir/poder + estar) + Gerúndio. Exemplos: possa estar recortando, possa estar deixando, vá estar recebendo, etc.)

Uma das hipóteses para explicar a origem dessa construção perifrásica em português seria a tradução de manuais norte-americanos de treinamento de operadores de telemarketing. Nesses textos, uma estrutura temporal típica do futuro em inglês (futuro do verbo to be + gerúndio: we will be doing, seding, writing, etc.) aparece com frequência. Essa estrutura teria sido traduzida literalmente para o português, dando origem ao que passou a ser chamar de gerundismo.

O problema causado por essa tradução literal é que, em português, o futuro passou a ser expresso por meio de uma perífrase construída com o Gerúndio, quando isso não é necessário para designar acontecimentos futuros. A língua já dispõe de duas estruturas verbais para cumprir tal função: o futuro do presente simples (levarei, farei, etc.) e as formas perifrásticas construídas com o verbo ir + Infinitivo (vou levar, vou fazer, etc),
O uso do gerundismo tornou-se tão difundido, que passou a ser alvo de todo tipo de crítica, como na campanha promovida por Ricardo Freire. Muitas tiras, como a reproduzida a seguir, ironizam o uso do gerundismo.

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