sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Professores de Inglês – Estudo do texto

Vamos ler mais uma crônica, desta vez da Cecília Meireles. Nela você vai perceber bem as características que já apresentei em postagens neste blog. Comecemos por uma em que a autora relata, com bastante humor, uma certa situação que ela vivenciou.

Professores de Inglês
Hoje qualquer pessoa pode aprender inglês com a maior facilidade: há institutos e cursos especializados, livros que dispensam professor, aulas pelo rádio e pela televisão, métodos tão modernos que nem me atrevo a descrever, com medo de me sentir inatual. Mas houve um tempo em que não era assim: os professores de inglês eram difíceis de encontrar, os alunos também não pareciam muito numerosos, a literatura francesa dominava com uma encantadora prepotência, e parece que todo brasileiro educado devia saber, em matéria de idiomas, apenas português e francês.
Mas, por ter descoberto Keats e Shelley¹, nem sei bem como eu andava à procura de quem me ensinasse inglês, fosse por que método fosse, contanto que eu pudesse chegar à poesia inglesa com a maior rapidez possível.
Comecei a frequentar um instituto onde havia muitos cursos de arte e literatura. Parecia-me que aquele era o caminho. E dispunha-me a uma dedicação total aos meus exercícios. Mas a boa professora, embora sem ser inglesa, mas com cursos no estrangeiro, grande prática em aulas particulares e outras especificações, iniciou suas aulas com um pequeno discurso sobre a absoluta necessidade de se conjugar perfeitamente os verbos "to be" e "to have", antes de se conhecer sequer uma palavra do vocabulário.
Ora, nem todos os estudantes haviam descoberto Keats ou Shelley, e frequentavam as aulas por simples obrigação. Ninguém estava pensando em versos ingleses: nem mesmo a professora. E foi um tal de recitar indicativos, condicionais e subjuntivos, presentes, futuros e passados, ora perfeitos, ora imperfeitos, ora mais que perfeitos, afirmativa, negativa e interrogativamente, que aqueles solos e coros me conduziam a uma inevitável sonolência.
Mas havia salas próximas em que se estudavam piano e violino. De modo que eu podia descansar na música, sempre que os verbos chegavam àquele ponto de monotonia em que só me restava ou enlouquecer ou dormir.
A minha segunda professora de inglês era inglesa mesmo. Também acreditava na eficácia dos verbos "to be" e "to have". Acrescentava-lhes ainda o "to get", ao qual se referia com um sorriso tão carinhoso que até dava vontade de se começar por aí. Mas essa professora tinha um método encantador: oferecia-me uma xícara de chá, para acompanhar as aulas. Sua sala era absolutamente igual às que se vêem nos livros ilustrados para o ensino do inglês. Exceto a lareira, tudo estava lá. E como eu já sabia um pouco de verbos, passamos àquelas frases em que o chapéu ora é nosso, ora é da nossa prima e o gato ora está embaixo da mesa, ora em cima da cadeira. Mas era tão difícil chegar a Keats e Shelley!
A terceira professora gostava de histórias de fantasmas, de sinos que batem à meia-noite, e em cima da sua mesa havia uma bola de cristal, por onde ela adivinhava o futuro. Mas no meio das suas histórias levantavam-se às vezes o "to be" e o "to have" e ela me pedia para recitar todos os seus modos e tempos acompanhando os meus esforços com um sorriso que talvez não fosse completamente macabro, mas era bastante assustador.
Feitas essas primeiras experiências, pareceu-me melhor ir diretamente aos autores, e, de vez em quando, aperfeiçoar-me por meio de quantos livros de "inglês sem mestre" fossem aparecendo.
Encerrando o ciclo das professoras, começou o dos professores. Um era persa e dava-me a traduzir sentenças filosóficas, sem se ocupar dos modos e tempos do "to be" nem do "to have". 0 outro vinha da Austrália: contava histórias de feitiçaria (esse era para o inglês falado), mas no meio das histórias ficava com tanto medo do que estava contando que era preciso tranquilizá-lo e mudar de assunto.
Por isso, no dia em que visitei a casa de Keats, em Roma, não pude deixar de pensar com ironia e tristeza: como são longos, às vezes, os caminhos da vida! E quanto tempo se pode levar para se chegar a um poeta!

MEIRELES, Cecília. Inéditos. Rio: Bloch, 1967, p. 151.

Estudo do Texto
O que fez a autora querer estudar inglês?
A autora começa seu texto contrastando o presente ("hoje") e o passado ("um tempo em que não era assim"), Que diferença ela nota entre estes dois momentos quanto ao ensino de inglês?
A autora passou por diferentes professoras e professores sem nenhum resultado prático. Mas nos apresenta cada um deles com muito humor. Que elementos ela vai aproveitando em cada caso para nos fazer sorrir?
A autora arremata sua crónica com uma breve reflexão motivada por toda a experiência que nos relatou. E diz: "não pude deixar de pensar com ironia e tristeza". 0 que há de irónico e triste em toda esta "história que a vida conta"?
¹ A autora se refere a dois grandes poetas de língua inglesa: John Keats (1795-1821) and Percy B. Shelley (1792-1822).

Esta crônica retrata as memórias da autora sobre professores que teve na época de escola. Muitas são as pessoas que chegam até este blog buscando exercícios para vestibular ou mesmo ajuda para fazer a faculdade de forma mais eficaz. para estas, trago uma sugestão bastante interessante que é o Curso de Pedagogia pela internet. Acessem o banner abaixo e vejam o conteúdo programático. A comodidade de fazer sem que sua rotina seja drasticamente alterada é uma ótima opção para os dias atuais.


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Gabarito dos exercícios de interpretação acima
1) 2º parágrafo (chegar à poesia inglesa).

2) 2º parágrafo.

3) 1ª professora - 3.° parágrafo, 4ª frase;
2ª professora - 6.° parágrafo, 7.a frase;
3ª professora - 7.° parágrafo, 2.a frase;
1º professor - 9.° parágrafo, 2.a frase;
2º professor - 9.° parágrafo, última frase.

4) Resposta pessoal.

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