sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Exercícios de interpretação com poesia lírica


Exercícios dissertativos.
Exercícios de interpretação de textos com gabarito.
Exercícios de tarefa.


EXERCÍCIO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


Fome
Pudessem minhas mãos falar às tuas
e dizer-lhes: sim, quero-te muito.
Pudesse eu inundar-te de ternura
e no silêncio ter-te, ampla e desnuda.
Que eu não faria versos sobre mim,
nem falaria em rosas, alma, lua.
Pudesse o meu olhar adormecer-te,
colher-te, fresca e firme, a forma viva.
Que coisas não faria nesta vida?
Que coisas não seria?
SOUSA, João Rui de. In: SENA, Jorge de (seleção e apresentação). Líricas Portuguesas. Lisboa:Edições 70, 1983. v. II, p. 403).
1. Qual a importância da repetição de estruturas sintáticas para o ritmo do texto?

2. As frases iniciadas pelo imperfeito do subjuntivo estabelecem uma gradação? Comente.

3. "Que eu não faria versos sobre mim,
nem falaria em rosas, alma, lua." 
(primeira estrofe)
Explique e comente esses versos.

4. "Pudesse o meu olhar adormecer-te,
colher-te, fresca e firme, a forma viva."
 (segunda estrofe)
a) Comente a exploração de elementos sonoros nos versos de João Rui de Sousa.
b) Em que consiste "a forma viva" de que fala o texto?

5. A quem ou a que se referem as formas verbais faria e seria nos últimos versos do poema ? Explique.

6. Relacione o título do poema com o seu conteúdo.
Sobre o poema, é importante eu dizer que a repetição de estruturas sintáticas é um dos recursos rítmicos do poema “Fome". Essa repetição também está ligada à criação de um efeito semântico, pois o sujeito lírico sonha avançar de um diálogo de mãos e de uma posse "ampla e desnuda" para um "colher" da própria "forma viva" da amada. Esse último passo o conduziria a possibilidades ainda mais amplas, apenas sugeridas peias interrogações finais do texto. Na exploração rítmica e semântica de estruturas sintáticas, o texto põe em evidência um dos mecanismos básicos da língua portuguesa: a variação da forma verbal de acordo com o ser a que o verbo se refere. Observe as sequências "pudessem minhas mãos...", "pudesse eu..." e "pudesse o meu olhar..." para perceber esse mecanismo em ação. Já nas interrogações finais do poema, as formas verbais faria e seria indicam a exploração desse mecanismo para obter ambiguidade: devemos entender que essas formas se referem a "o meu olhar" presente no início da estrofe ou ao "eu" que nos fala? Na interpretação de textos poéticos, muitas vezes as perguntas são mais importantes do que as eventuais respostas que possam surgir.


GABARITO DO EXERCÍCIO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO


1. Essa repetição instaura o ritmo, a cadência de leitura do texto. Isso pode ser notado por meio da leitura em vez alta.

2. Sim: esses versos partem do contato entre mãos para a posse física e espiritual.

3. O sujeito lírico nega-se a utilizar seu amor como pretexto para temas convencionais da lírica amorosa: o próprio eu, as rosas, a alma, a lua.

4. a) Os elementos sonoros de maior destaque são as aliterações em, /f/, com as quais se relaciona a repetição do fonema homorgânico /v/, e a exploração de sonoridades em /d/, /t/, /m/. Note-se, também, a presença marcante das vogais e e o.
b) É possível ver nessa imagem uma alusão ao contorno não apenas físico, mas também espiritual da amada.

5. O aluno deve perceber que é difícil responder a essa pergunta, pois essas formas podem referir-se ao "eu" que nos fala (o sujeito lírico) ou ao olhar desse sujeito lírico. Isso ocorre porque essas formas verbais são as mesmas para a primeira e a terceira pessoas do singular.

6. A "fome" de que nos fala o texto não é um simples desejo de satisfação alimentar, mas um verdadeiro apetite pelos aspectos mais sublimes do relacionamento amoroso.

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